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03/10/2018
ARTIGO: O desempenho da economia e o mercado de máquinas agrícolas: - um caminho possível.

O desempenho da economia e o mercado de máquinas agrícolas:

- um caminho possível.

FRANCISCO HERCILIO DA COSTA MATOS - Economista

Breve Retrospecto

A economia brasileira tem se visto em sucessivas enrascadas conjunturais. A última, entre 2015-2016, levou-a a inédita recessão, a mais significativa que já se mediu em estatísticas econômicas, segundo avaliações abalizadas. O Produto Interno Bruto (PIB) se reduziu ao mesmo montante de seis anos antes. E tem sido assim, desde a crise do petróleo, nos anos setenta do século XX. Nossa economia vive a ciclotimia de um anda-e-para, alternando ciclos de crescimento com desacelerações econômicas agudas. Ora na crista da onda, ora na depressão profunda.

Há quem diga que isso é próprio do sistema capitalista, onde o ciclo ascendente de expansão econômica eleva o patamar até atingir um novo pico. Daí, geram-se desequilíbrios na alocação dos fatores de produção, exigindo correções que seguram o crescimento, advindo a contração, num ciclo descendente. Superados tais desarranjos, advém nova expansão, onde a economia cresce até atingir novo patamar. E assim sucessivamente.

Que assim seja!

Nos quinze anos, antes da última crise (2015-2016), crescemos oito anos ininterruptos, entre altos e baixos, desde 2001 até 2008. Daí, a crise iniciada no crash do Lehman Brothers contaminou a economia brasileira rapidamente. Em 2009, uma breve esfriada do PIB, com variação de -0,1%, e em seguida outro período de recuperação, que se estendeu até 2013.

Já em 2014, outra estagnada (0,5%). E daí derivando nova contração até a recessão de 2015-2016 (-7,6% do PIB).

Naturalmente que as razões, nessas situações, são multifocais. Na explicação dessa última crise, em geral, admitem-se como causas imediatas, no flanco externo, a desvalorização das commodoties no mercado internacional, particularmente as agrícolas, somadas à redução da liquidez mundial, fruto da valorização do dólar e a atração do mercado americano, que alinhadas à perda da capacidade de endividamento das famílias e queda no nível de investimento das empresas, no flanco interno, respondem em grande medida pela recessão registrada no período.

Resumidamente, são os mais significativos pontos conjunturais que ensejaram a nossa, já histórica, crise dos anos dez deste século.

Nesse ambiente, o mercado de máquinas agrícolas também sofreu sucessivos aclives e declives, embora seu principal mercado, o agronegócio brasileiro, tenha se comportado como a plataforma de sustentação da atividade produtiva, na maioria das vezes, contrariando inclusive a tendência geral dos demais setores da economia, em alguns momentos.

De fato, neste período de quinze anos que vai até 2015-2016, a agricultura claudicou em três momentos: em 2005, com a crise de endividamento do setor; em 2009, arrastada pelo colapso da economia mundial; e em 2012 como consequência da crise de produção, pelo déficit hídrico, dentre outros.

O mercado de máquinas agrícolas registrou crescimento médio de 14% entre os anos de 2007 a 2013, inclusive com direito a recorde em 2013: 77,6 mil unidades produzidas. A partir de 2014, registram-se sucessivas quedas da produção. Em 2017, a produção de máquinas agrícolas somou 54,9 mil unidades, alta de 1,8% sobre o ano anterior.
O cenário para o corrente ano é benfazejo de novo. Isso porque a agricultura apresentou a segunda maior safra da história, perdendo só para o ano-safra anterior. Para as máquinas agrícolas, crescerão o mercado interno e as exportações, estima-se.

O quadro fiscal do País e as possibilidades de estímulos à indústria de máquinas agrícolas.

Como óbice, o quadro agudo das contas públicas com déficit presumido de R$ 147 milhões para o presente exercício fiscal, limita a ação indutora do estado como fomentador da atividade industrial. Isso se reflete, dentre outras situações, na fluidez dos créditos para investimento e aumento do custo do dinheiro para os produtores rurais, o que inibe a expansão do mercado interno.

Para o ano que vem, já sob a égide do novo governo, eleito agora em outubro, algumas lideranças do setor de máquinas agrícolas reivindicam acesso a crédito com taxas de juros mais “civilizadas” e a progressão das tarifas de importação, ampliando a competitividade das máquinas nacionais frente às importadas (o coeficiente de importações passou de 17,0% no final de 2009 para 22,0% no final 2011, do que é assim chamado de “consumo aparente”, mantendo-se neste patamar desde aí). Pede, ainda, revisão da política tributária, que desonere investimentos e exportações, reduza custos administrativos (inclusive da folha de pagamentos), dentre outras medidas.

É uma agenda pouco factível, ao que parece, diante do déficit fiscal e das condições de crescimento da economia (significa dizer: da necessidade de ampliar a arrecadação via expansão das atividades produtivas).

Ao contrário. Há um acúmulo, a ser herdado pelo futuro governo, de benefícios fiscais que provavelmente deverão ser reavaliados à luz do custo-benefício para o restante da sociedade. Estudos apontam para a relativa perda de eficácia de parte dos subsídios e benefícios fiscais concedidos, posto que “falta fiscalização e, quando há, não surtem o efeito desejado para o conjunto da economia”.

Desde o governo Dilma, em especial, a partir de 2014, o instrumento da isenção fiscal, como redução do IPI sobre bens de capital e desoneração da folha de pagamento de alguns setores intensivos em mão de obra, não trouxe o resultado esperado.

O atual Governo Federal cumpre o papel contraditório (em grande parte, por herança, diga-se de passagem) de conceder o maior volume de benefício fiscal em relação ao valor arrecadado (21%), num cenário de penúria com cortes e limitação de gastos, desde Fernando Henrique Cardoso.

Mas há um quadro que pode ser promissor.

Ao invés de se pugnar por demandas com base em benefícios de natureza fiscal, deve-se buscar o fortalecimento e a consolidação de mercados já cativados pela indústria brasileira de máquinas agrícolas.

Os dados do último Censo Agropecuário mostram uma ampliação do uso de mecanização da agropecuária, o que tem assegurado inclusive os ganhos crescentes de produtividade, somada à aplicação de novas tecnologias. Mostram também que há uma forte renovação do estoque de máquinas agrícolas no campo, em especial de tratores, registrando-se um ganho de cerca de cinco anos na idade média da frota em operação.

Neste particular, a ampliação de mercado comprador com novos entrantes nos últimos dez anos, com destaque especial ao Programa Mais Alimentos, é indício interessante para uma luta a favor da consolidação de mercado.

Isso porque, do ponto de vista do Governo, é preferível ampliar o mercado, subsidiando o custo de aquisição de máquinas e equipamentos pelos agricultores, com seu efeito multiplicador na macroeconomia do País, do que promover a redução de custos das indústrias, via desoneração de folha de pagamentos, por exemplo, o que tem um reflexo muito mais microeconômico no resultado de cada firma. Pode até ampliar o resultado operacional de cada empresa, mas certamente não tem impacto igual no conjunto da economia.

Também é preciso insistir nas oportunidades já consolidadas dos diferentes mercados internacionais, com a promoção de novas conquistas, através de ação eficaz da inteligência de mercado (vide APEX), somada à pluralidade das relações econômicas multilaterais, superando dicotomias ainda limitantes à ampliação de mercado. A África continua logo ali.

Isso, claro, sem abdicar da busca por programa permanente de inovação para garantir ganhos de produtividade e, assim, compensar os eventuais custos de transação do chamado “Custo Brasil”.

Este é um caminho possível!